domingo, 22 de julho de 2007

Com Cheiro de Terra

©2007 Jorge Lemos

Bichos e homens,
Lá,
Entendem muito bem
As coisas que falo!...

Com Cheiro de Terra

Sol de Agosto,
Sol a pino,
Vermelho, vermelho,
Queimando fundo
A pela curtida e ressecada,
Até meio esbranquiçada
Pelo sal do suor da luta
O corpo do vaqueiro.

Quem conhece sabe:
Corpo de marrueiro é assim mesmo!

Os rasgos na carne
Pelos espinhos de gravatá
Ou de mandacaru,
São marcas,
Medalhas de honrarias
Das vitórias e conquistas
No dorso do salitreiro,
Cavalo bom, catingueiro,
Que traz estrela na testa
E corpo inteirinho
Dum castanho escuro,
Como de uma terra fértil,
Distante,
Que ele nunca conheceu!

Quem já viu repete:
Corpo de Tabaréu é assim mesmo!

As vestes de couro cru
Retém o cheiro curtido
Do suor do homem.
Corpo retesado,
Seco, tisnado,
Fibras nervosas,
Musculares,
Que nunca se enferrujaram
Como aço de boa têmpera!

Corpo,
Para dizer bem a verdade,
Que pouco viu água.

Só viu água mesmo pra valer
Três vezes apenas:
Quando nasceu,
Limpeza feita muito às pressas
Pela parteira!

Um outro banho, o Cristão,
Foi nas águas do velho Chico,
Dado pelas mãos
“do padim Pe. Ciço”
Rio de água benta
Rio pia batismal!

Mas o maior de todos os banhos
Foi quando se casou com a Rosinha.
Naquele dia ele quase esgotou
Toda água da cacimba!

- Onde vive este buscador
de boi fujão, Poeta?

Em pleno sertão rachado,
Caatinga bravia,
Que desde o dilúvio
Nunca mais recebeu uma gota
Sequer de chuva.

Lá a falta de água é tanta
Que as crianças quando nascem
Não choram nunca
Para não esgotarem
A água que tem no corpo.

Lágrimas não há
Nem para se chorar os mortos.
O choro é pago, vem de longe,
Chorado pelas carpideiras.

A vastidão daquele mundo
Para o vaqueiro,
Começa e termina
Onde sua vista alcança
e a força de seu cavalo chega.

Vida de tangedor de gado
É assim mesmo.

Mas entre o solo e o homem
Existe um laço tão grande,
Tão apertado,
Trançado,
Feito pelo couro cru
Do boi fujão matador.

Amor recíproco,
Terra e homem,
De celebração diária,
Simbiôntica:
Terra e Homem, Terra mãe
Terra mulher, Terra amante!
Terra ainda virgem
Dos tombos de montador
E montaria.

Segredo ali não há.
Cada imagem que o dia proporciona
Vem sempre na sombra do sol
E revela na noite
Um sonho novo
Que sempre fica velho
Para escrever seu tempo.

Bichos e homens,
Lá,
Entendem muito bem
As coisas que falo!


(Foto: Marcos Negrini-Setecs)

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Comentários

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Jorge:

Não conheço gente mais forte, que mesmo com tantas dificultades, são absolutamente apaixonadas pela sua terra!
É um amor de se emocionar!

Tão lindamente descrito por você!
Um beijo!

"

Comentário de Anonymous Anônimo, em 22 de julho de 2007 às 19:24  

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Jorge, como sempre, pleno de conteúdo, rico em força na expressão da terra e da natureza humana. Um verdadeiro Cordel que diria:

O vaqueiro de verdade
Não teme a morte e a fome.
Não foge de emboscada
E não treme diante de homem.
O vaqueiro de verdade
Não larga o seu laço de mão
Ele não se abaranha em espinho
À mulher ele não nega carinho
Ao bom Deus ele não nega oração.

"

Comentário de Blogger Walmir Lima, em 22 de julho de 2007 às 19:49  

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E 'ele' verdadeiro, honesto... esse não perdeu a noção do certo e do errado... Ainda há esperança!!
Bom te ver de volta Jorge... Estava preocupada com a tua ausência amigo!

"

Comentário de Blogger Anne M. Moor, em 22 de julho de 2007 às 20:13  

"

Anne amiga:
Tambem senti falta de vcs!
Semana repleta de atividades
com sobrinhos e netos a volta.
Meu Art Director esteve ausente
por problemas vários.

Beijão

Angela
Já estamos com saudade.

Walmir
Vc sempre presente dando-me apoio. Amigo sofre...
Queremos vc inteiro e descaçado.
Poupe-se.

"

Comentário de Blogger Jorge Lemos, em 23 de julho de 2007 às 08:41  

"

O que sei desses homens é o que os poetas comentam. Devo a você saber um pouco mais, lembrar-me um pouco do que comecei a aprender no ginásio, sem compreender completamente. (Será isso possível?)- Obrigada pela poesia.- Abraço- Zuleica

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Comentário de Blogger zuleica-poesia, em 23 de julho de 2007 às 10:09  

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Melhor, muito melhor que uma câmara na mão e uma idéia na cabeça é o lápis de quem sabe.

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Comentário de Blogger Ernesto Dias Jr., em 23 de julho de 2007 às 13:10  

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Mais do que entender, vivem.
Mas não seriam capazes de descrever com tanta propriedade.

"

Comentário de Blogger Flavio Ferrari, em 24 de julho de 2007 às 00:39  

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Por onde anda Lu,
a Maria e mais tanta gente querida?
E Maria Helena?
Aline minha filha, mostre a cara!
Beijão a todas!!!!

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Comentário de Blogger Jorge Lemos, em 25 de julho de 2007 às 11:27  

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Desculpe-me, tenho corrido muito e à noite a net não me pertence.Mas, seu poema é lindo, perfeito, como tudo que fez e faz na vida( inclusive eu kkkkkk).
Te amo muito, sabe disso. E sua fã de carteirinha, sindicalizada e...
Preciso falar mais?
Beijokass sempre neste seu lindo e amado coração. ;)

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Comentário de Blogger Unknown, em 25 de julho de 2007 às 19:26  

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Oi Jorge
Tô aqui e e continuo babando em tudo que vc escreve(por menor que seja).
Outro dia li um comentário seu em algum blog por aí.O comentário mais comum e mais normal do mundo.Uma frase que todo mundo usa há séculos pra mandar um abraço ao amigo. As pessoas dizem:Um abraço, ou forte abraço, ou super abraço, ou abraço apertado, e por ai´vai. Você disse:Um LARGO abraço. Muito mais lindo, mais poético e mais emocionante.
Quem sabe , sabe...
Bjão e saudade de todos aí.

"

Comentário de Blogger Lú, em 25 de julho de 2007 às 19:30  

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é Jorge!!!

esse é o povo brasileiro, na terra, no asfalto, na industria e tambem no ar!!!! apaixonados pela arte de fazer melhor... criados para melhorar o que sempre foi feito e faze-lo de outra maneira....porem melhora-lo....povo brasileiro, povo desse continente, povo deste planeta... só erramos quando escolhemos os dirigentes para nos.......aí suamos mais na terra, sofremos mais no asfalto, perdemos nosssos braços na industria e nossas vidas no ar.......

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Comentário de Blogger mirinho, em 26 de julho de 2007 às 16:48  

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Miro
Um forte abraço. Grato pela sua presença.

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Comentário de Blogger Jorge Lemos, em 27 de julho de 2007 às 09:22  

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Jorge: Kd vc???? Saudades...

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Comentário de Blogger Anne M. Moor, em 1 de agosto de 2007 às 09:15  

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Nossa q obra estou feliz por tamanha riqueza sem palavras Jorge gostarei muito de te conhecer um forte abraço

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Comentário de Anonymous Anônimo, em 14 de agosto de 2007 às 20:41  

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Thiago
A satisfação será minha. Venha quando quizer com o velho Walmir.
Abraços Jorge

"

Comentário de Blogger Jorge Lemos, em 19 de agosto de 2007 às 15:42  

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