quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Qualidade de Vida
©2007 Jorge Lemos
O título acima tem me trazido uma preocupação sobre os critérios de avaliação que determinam as diferenças, para mais e para menos, entre cidades. Nas buscas empreendidas não encontrei, ainda, o que diagnostica como um padrão de vida ideal, isto porque tudo está ligado ao comportamento ético dos homens e seus limites para a ocupação racional dos espaços.
Mergulhado, como ambientalista primeiro, pelos longos anos de lutas, vivo procurando definir padrões e componentes que levem indivíduos à satisfação do viver bem.
Após anos de trabalho em empresas do governo vi-me diante de intrigantes perguntas sobre o que seria “Qualidade de Vida:. Que visão o homem moderno teria sobre o tema? Como definir?
Ao assimilar conceitos, busquei aceitar o que defendiam os precursores dos estudos ambientais, como H. Friedel, B. Dussart, F. Ramade, (aquele que tão bem escreveu o famoso trabalho “A Agressão Humana Tradicional”) e alguns outros estudiosos que nos possibilitaram enxergar um pouco mais à frente.
Quero participar da tese de que o indivíduo deve equilibrar-se com os grandes dons da natureza, como o ar, a água, o solo. A convivência equilibrada e respeitosa entre iguais e diferenciados, em relação a esses três elementos básicos leva, obrigatoriamente, à sobrevivência das espécies.
A primeira grande agressão à qualidade de vida pode ser descrita como: “desvirtuamento dos caminhos da ética e da moral, quando as agressões do indivíduo ao coletivo se processam”.
Há uma falsidade dominante e ela tem presença em todos os quadrantes do planeta. Tem futuro a humanidade? Talvez a maior interrogação, aqui, seja a proposta.
De fato, o discurso a que me proponho talvez seja extremamente complexo, mas fundamento-o em constatações reais e objetivas. Pergunto: Sua cidade tem qualidade de vida?
Olhe com seus olhos, não pelos meus. Veja a imundície e a falta de respeito que dominam as ruas. Observem os gastos astronômicos e desnecessários, fora os desvios, enquanto o fundamental saneamento básico (esgoto e água) não atente sua casa, sua rua e seu bairro, onde sob qualquer pequena chuva ou ação de ventos a energia elétrica cai, onde a telefonia emudece, não lhe possibilitando pedir socorro, se necessário.
E os transportes funcionam? Como está sua rua em matéria de conservação? Como se comportam os seus vizinhos com respeito ao recolhimento dos descartáveis? O nível de barulho respeitando as leis da boa vizinhança é praticado? E o muro ao lado de sua casa, aquele que está caindo pondo em risco a segurança de terceiros, foi consertado pelo vizinho faltoso? E aquele que bebe e sai em alta velocidade matando gente, está preso? E o médico plantonista cumpre com rigor os seus horários? E os Planos de Saúde, como lhe atendem? Tem fiscalização para controle de tudo? E os que se apossam e invadem os cofres lesando os recursos públicos? Como ficam os cofres das entidades e ONGs com os sempre crescentes roubos pelos portadores do colarinho branco? E a mídia, seja escrita, falada ou televisada, que profana a sua vida com mentiras deslavadas (raras são aquelas que se põem ao lado da verdade)?
Quando se falar em “Qualidade de Vida” tem-se que associar todos os ingredientes do nosso dia-a-dia e definir o que eles resultam.
Empoladas retóricas fazem parte de seres que se dizem defensores do meio e da qualidade de vida. Não passam eles de simples vermes usurpadores que mais poluem com suas ações e procedimentos antiéticos e amorais, danificando e corrompendo sagrados espaços de sua vida.
Invejo aquele ser nativo, o silvícola, que se equilibra com o meio, extrai o seu sustento, sem macular o seu meio, e estabelece o respeito à velhice às crianças que, por sua vez, tem de todo o grupo a responsabilidade por sua formação.
Vamos ter futuro? Como posso defender minha cidade como sendo maior portadora de qualidade de vida que a cidade vizinha se lança no manancial de que me sirvo, às jusantes, os nossos dejetos? Hipocrisia!
Gostaria de entender a mecânica usada para se definir qualidade de vida se o acesso à minha casa fica impraticável, sob chuva, para a chegada de uma ambulância para me socorrer.
É, o mundo está podre e a mentira impera.
As grandes leis da biosfera (biosfera é simplesmente “a esfera da vida”) vêm, no curso da história, sendo desrespeitadas, violentadas e agredidas impunemente, pois atrás dessas destruições e violências os muitos interesses materiais se somam.
Na próxima semana quero escrever, baseado em Paul Pellas, sobre o “Acréscimo de Matéria à Terra”. Como se não bastasse o lixo que produzimos, o sistema solar contribui para a aceleração do processo degenerativo dos planetas.
Gostaria de escrever o contrário, mas, acreditem, os Maias têm razão: o fim está próximo, a natureza, sábia e paciente, começa a dar os seus sinais de indignação.
Quem viver verá.
Escrevo para os que pensam.
Debates sobre os problemas da atualidade.
Convido meus leitores para a prática da cidadania.
Opine e contribua para a evolução da espécie humana.
Jorge Lemos.Marcadores: Crônicas
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Quando a Razão Começa a Aflorar
©2007 Jorge Lemos
"Não há razão para buscar o sofrimento, mas, se ele surgir em sua vida, não tenha medo; encare-o de frente e com a cabeça erguida!" Nietzsche
Viver é a arte de se buscar a paz. Dá-se ao tempo o tempo necessário para que caiam máscaras e, com a humildade do justo, prosseguir o seu caminhar. Devemos nos lembrar de que sempre ao fim de cada espetáculo os maus atores recebem o que merecem: as críticas e o desprezo do público.
Alguns ensinamentos devem prevalecer quando a experiência de vida lhes faltar. Por exemplo: Fujam dos que lhes dão tapas nas costas e estejam sempre precavidos contra os excessos de palavras doces e as mesuras que lhes são dirigidas. ”Sempre há falsidade se escondendo por detrás das palavras doces”, como dizia Kalil Gibram, e os interesses maiores dos falsos (sempre evasivos e desonestos) prevalecem.
Não há perdas nem vitórias, mas os feitos dignos sempre sobrepujam o mal. Se algo de decepcionante se interpuser no teu caminho, não se desespere: o tempo se incumbe sempre de mostrar a clareza das verdades!
As virtudes dos justos sempre afloram, mesmo que sejam tardiamente reconhecidas. Se os cegos - aqueles que têm olhos mas não desejam enxergar - são os piores, muito piores são os que se omitem e, levianamente, aceitam o que é errado e o que de desonesto está sendo imposto.
O parágrafo acima completa uma fase do meu sempre feliz aprendizado e faz parte de um conjunto de discussões que ocorreram recentemente entre amigos e, bem como, das profundas e importantes respostas às perguntas a mim feitas por jovens participantes de um encontro que ocorreu lá na Livraria Nobel de Vinhedo. Esse encontro se deu num Sábado de manhã, quando fomos trocar experiências sobre a iniciação em trabalhos literários.
Foram elevados os temas propostos. Nada das conversas chãs, vazias, que sempre ocorrem entre medíocres e pseudo-intelectuais, cujos encontros, às vezes, descambam para surpreendentes confissões comportamentais.
Surpreendi-me com a inteligência e a capacidade daqueles jovens de condenar até as posições antiéticas de grupos. Foram mais de duas horas de um bate-papo em que os jovens buscaram, com avidez, seus caminhos rumo à intelectualidade e à iniciação literária.
Perguntaram-me se eu tinha admiração pelos ousados. Respondi, citando um filósofo: “Os ousados morrem cedo pelos seus atos imprudentes”.
Gosto mais dos valentes. Mas não basta apenas ser um hábil espadachim; é preciso saber a quem ferir, e, muitas vezes, abster-se demonstra mais bravura ao executar um projeto cultural.
É sinal de sabedoria, reservar-se sempre para um momento mais digno, quando sempre se nos oferece ao sabor de uma maior conquista.
Buscando um tema específico para este momento deliciei-me com um pensamento que me foi oferecido meses atrás pelo Walmir Lima, poeta de raríssima sensibilidade: “Quem tem um objetivo para realizar é sempre capaz de suportar qualquer coisa!”
Compreendi o momento em que a razão se põe em nossas vidas; não cairá um fio de cabelo sem a vontade do Pai. E me ensina a amiga, a historiadora Ana Maria: “Dê tempo, deixe que o Cosmo cuida!”
Lembrei-me então de uma historinha oriental da velha sabedoria e tradição Zen que conta que um chefe guerreiro samurai foi ter com um velho e sábio mestre e perguntou-lhe:
- Mestre o inferno existe? E o céu? Diga-me onde estão estas portas que podem nos levar a um ou ao outro lugar?
O velho Mestre olha para o jovem e pergunta: - Quem é você?
- Não me conhece? Olhe-me bem, Eu sou um destemido samurai, um grande chefe que merece até o respeito do próprio imperador.
O velho, enigmaticamente, sorriu e respondeu ao guerreiro: - Você me parece um mendigo.
Ferido em seu orgulho, o guerreiro saca a sua espada e se fez pronto para degolar o ancião. O velho sábio levanta a mão num gesto e lhe diz:
- Esta é a porta do inferno!
De pronto o samurai entendeu. Ao guardar a arma na bainha, disse-lhe o sábio:
- Esta é a porta do céu!
Sabemos o quanto é difícil reconhecer o seu momento. Imagem: Wisdom Tree, a Árvore da SabedoriaMarcadores: Crônicas