sábado, 22 de dezembro de 2012
Hoje Eu Falei com Deus
©2007 Jorge Lemos
Hoje Eu Falei com Deus
O Natal, ou seja, a comemoração da Natividade (nascimento de Jesus) nos coloca em profunda necessidade de reflexão.
Neste período, desde muito jovem (com a perda do meu pai exatamente próximo a este dia), gosto de ilhar-me, afastar-me mesmo, para pensar sobre os meus momentos. Procuro estabelecer metas para acertar os ponteiros do meu relógio interior. Comparo os feitos e busco os desacertos - hora certa para uma profunda avaliação de vida.
Sei que muitos amigos acham estranho esse meu comportamento. A eles, peço respeito. Quero falar comigo mesmo, com meu interior !
Algo precisa ser dito: Recolho-me também para não ver hipocrisias e, com sinceridade, quero me afastar. Pelo menos nesses dias, distancio-me das falas macias, da falsidade de muitos.
Gostam de verdades?
Dá-me tristeza ver o mundo à minha volta a se esfacelar. Pela ganância, foi criada uma máquina de sedução consumista - o que contraria totalmente a história primitiva sobre a vinda prometida do Salvador: Somos todos iguais perante Deus!
Foi só no Século IV que a Igreja Católica Romana introduziu a data de 25 de Dezembro como o dia do nascimento de JESUS. Devemos nos lembrar de que o calendário Gregoriano foi ajustado séculos após o nascimento do Senhor. Prevalecia, até então, o calendário judaico cujas festividades passaram a obedecer o espírito Romano, com suas festas pagãs de comemoração ao Solstício de Verão.
Como podemos observar, há sempre um acontecimento que precede o outro. A mutação da História obedece ao duto das necessidades de domínio.
Mas, o que quero dizer com isso? Que ocorreu esse ajuste histórico onde a festa pagã se mescla à religiosa, onde a riqueza das colheitas do verão faziam fartar as mesas dos povos, o que nos abre um convite amplo para refletir sobre nossos atos e sobre nosso momento, até nos abstermos, através do jejum, como um sacro oficio, como uma forma de compreendermos as necessidades de tantos e tantos famintos espalhados pelo mundo.
Falo com Deus!!
É explicitamente claro. Mesclo-me e integro-me à Sua energia, e as respostas me vêem claras e transparentes como água pura que brota do seio da terra e que, por benesse Divina, mitiga minha sede.
Sublimo-me!
Mesclo-me às crianças famintas da África, e de todas as partes do mundo, em sua fome de vida. Pela possibilidade de unir-me a uma Força Maior, percorro corações dos muitos senhores de grande poder e vejo neles a carência de sentimentos que lhes proporcionariam acender dentro dos seus peitos uma chama - uma grande chama: a da Luz da Solidariedade!
Reflito: De que adiantam as mesas fartas de iguarias, ceias pomposas e repletas de guloseimas se ali na África explodem fome e miséria? Saber que os ribeirinhos do Amazonas estão condenados pela propagação indiscriminada de doenças que, de há muito, deveriam estar erradicadas.
Pensem: Enquanto nos fartamos em “ceias de mil manjares”, muitas escolas e creches do Nordeste vão se fechando porque as verbas governamentais para a alimentação lá não chegam - ficam pelo caminho, enchendo os bolsos dos impuros e apaniguados de um Poder corrupto !
E os senhores “donos do poder” dizem que nada sabem. Suas mentiras são tantas que eles próprios passam a acreditar como verdades !
Sinceramente, vocês têm coragem de se regozijar em volta de uma mesa farta vendo tanta miséria, corrupção, mentira e engodo ao seu lado? A mim me parece que nos acostumamos com a podridão.
Acreditem: Eu hoje falei com Deus! Ele entrou no meu peito e me instruiu a transmitir a todos este pequeno lembrete:
“FILHOS, OS MAUS NÃO SÃO BONS PORQUE OS BONS NÃO SÃO MELHORES!”
(Jorge A. G. Lemos – Morada de São Francisco – Louveira, Brasil)
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Divagante Devaneio
©2007 Jorge Lemos
Próximo à Nascente do Rio São Francisco, em Minas Gerais
Divagante Devaneio
Leio, com muita atenção e por diversas vezes, um poema escrito por Carlos Drummond de Andrade: “Velho Chico”. Impressionante a forma descritiva. Só um gênio como o do Carlos para descrever a agonia e a morte do seu rio.
Procuro comparar a minha obra “Meu Amargo Rio Doce” em que descrevo e comparo a morte daquele rio, o São Francisco, com o do velho Mário de Andrade quando escreveu os funerais do Tietê.
Será que todos os poetas são iguais? Buscam elementos da natureza pródiga para se associar e, por analogia se unir por um imaginário cordão umbilical?
Penso, talvez por termos passado nove meses envoltos em água, fazemos de um rio a nossa mãe e, ao vê-la agonizando, com ela morremos um pouco!
Divagando, salto para um sertão bravio ao abrir “Sagarana”, aquele magistral trabalho do meu irmão mais velho, o João. Estranharam? Meu irmão sim! João, o Guimarães Rosa é um irmão de ideais e sonhos. Ambos fomos formados da mesma argila impregnada de um amor extenso pelos homens e terras rudes.
Épocas distintas separam-nos. Mas, espírito formado e derretido no mesmo cadinho onde o fogo de Deus misturou-nos. Carlos, o Drummond, de soslaio nos olhava e dizia:
“Itabira que me perdoe, mas vou deixar para o João o sertão e para o Jorge o Rio doce que nasce ali pertinho, na Mantiqueira, mas fico com o “Velho Chico” me apropriando dele sem pedir para ninguém. Quem não gostar que cuide dele depois que eu me for!”
O Thiago, aquele, de Mello, num canto espiava tudo. Aquele risinho de mofa que esconde no canto da boca diz:
“Se faltar água eu empresto um pouco antes que o matem. Meu Negro e o Solimões quando se juntam podem inundar o mundo: e ele é meu!”
Fujo então do devaneio deste encontro e, aleatoriamente, abro “Sagarana”, aquele do meu irmão João. Em uma das primeiras páginas com quem me deparo? Bato de chofre com o Carlos, desta vez fazendo o preâmbulo no livro do João. Leiam comigo esta preciosidade:
Um Chamado João Rosa
João era fabulista?
Fabuloso?
Fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?
Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
dava para disfarçar, para forçar
o que não ousava compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
No Peito?
Vegetal ele era ou seria passarinho
sob a robusta ossatura com
pinta de boi risonho?...
E assim vai Carlos falando em quatro páginas sobre João, meu irmão das palavras rudes do sertanejo andejo como eu.
Fala João e a troante voz se expande em tantos e tantos ouvidos que, francamente, não acredito que o povo inteiro não o tenha ouvido.
Fala João! Responda João!
Se, do outro lado, aquele que ontem requisitou o arquiteto, o Oscar, quer construir um espaço maior que possa abrigar este nosso povo inteiro: que não falte a tinta no tinteiro daquela Parker 51 que eu emprestei ao João e ele nunca devolveu.
João era assim: na hora que sentava para autografar livros, perdia a noção do tempo e do espaço, ficava plantado entre anjos e, vez por outra, apertava o nó falso da gravata borboleta e sorria olhando para o alto. Era assim que João falava com Deus, daí...
O pouco que sei, aprendi com você João! Amo você, João !
Sei que pode haver amor entre os homens, assim como amo aquele ali, o Rui, meu irmão mais velho e o Adhemir (com H), se cada um de nós assim o quiser.
Obrigado, Carlos, por falar tanto do velho João. João Guimarães Rosa, o sertanejo como eu!
“Gente: João sorria se lhe perguntassem que magia de mistério ele guardava para escrever coisas que ele nunca tinha visto?”
Sinceramente, eu tenho respostas que ele me confidenciou, mas só as revelarei quando nos reunirmos, os cinco: João, Carlos, Thiago, eu e o Oscar - aquele que foi levado dias atrás - para discutirmos os projetos que o Oscar vai traçar em sua prancheta quando ele projetar um novo mundo cheio de poetas.
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