Luís de Camões

Nas trovas eu fui buscar
Os anos de fidalguia
E poder aqui reavivar
Momentos de rara magia

Falar dos feitos passados
Vividos com emoções
Abrindo peitos arrojados
Que construíram Nações

Dos Poetas e narradores
Das grandes revelações
Dos feitos e dos amores
O maior? Foi Camões

Quando de arma em riste
Sua pena voluntariosa
Alma de um povo resiste
Pela história tão gloriosa

Vou contar a sua história
De alegria e amargura
Dando ao seu povo, gloria
Que pelos séculos perdura

Teve ele vida conturbada
Pelos grandes inimigos
A paz sempre roubada
Causando sempre perigos

Caminha foi de Camões
Inimigo feroz e insensato
Agredia-o com palavrões
Trazendo tristezas de fato

Pelo poder da maldade
Camões foi um desterrado
Deixou seu berço e cidade
Onde muito foi amado

Sinta que é importante -
O momento de lembrança:
Se uma vida ficou distante
Nunca perdeu a esperança

Busquem o peito sofrido
Do inspirado Camões
Sinta-o magoado, perdido
Enfrentando desilusões

Na alegria ou na desgraça
Camões, poeta se fez
Mostrou a força da raça -
Orgulho de ser Português

Nos versos fez sua trama
Contando o renascimento
Mostrando Vasco da Gama
E os seus descobrimentos

De terras lá no oriente
Abrindo caminhos no mar
Na busca do sol poente
Portugal foi navegar

Louvo o poeta da glória
Compondo suas Lusíadas
Imortaliza a grande história
Ao eternizar muitas vidas

Nos feitos dos seus heróis
Livros compôs por inteiro
Narrando não por dinheiro
Mas como luzes e faróis

Camões traduziu Ariosto
Poema? “Triunfo da Morte”
Obra culta de raro gosto
Que analisa sobre a sorte

O nosso poeta Camões
Deitou-se ele a escrever
Entre o lírico e o épico
E foi assim seu viver

Criou ele os “Anfitriões
“Filodem” e “El Rei Seleuco”
Acha que verso é pouco
Como ventos das monções

Foi sempre um inconformado
Aos convencionais padrões
Amou demais e foi amado
O nosso poeta Camões

Exaltou da nave o mastro
Ele tudo celebrizou
Na morte de Inês de Castro
Mostra a vida que ela amou

Do Mecongo diz o poeta
“Receberá plácido e brando”
Se ao mar barco afundando
A vida que foi incerta

Provedor mor dos defuntos
E dos ausentes na China
Não lhes fez versos e cantos
E nada que lhes opina

Quinze mil deu-lhe o rei
Presente ou tença anual
O dinheiro, o que direi
Se foi bem ou se foi mal

Talvez a tal recompensa
Dada pelo rei Sebastião
Ao poeta não compensa
Esperava melhor mão

É que ao rei sem visão
Não sabia diferençar
Entre um simples cortesão
E a glória do além mar

As obras do nosso poeta
Vão do dramático ao épico
Mas tudo que ele relata
Tem no fundo canto lírico

As conquistas alem mar
Nossas glorias portuguesas
Nos ensinam sempre a amar
A certeza das certezas

Eis Camões aqui na corte
Sofrendo muita desgraça
Vê-se largado sem sorte
Por amar? Muita ameaça

Foi desterrado o Camões
Vive então a vil tristeza
Entre os uivos dos cães
Malogros da realeza

Foi conjurado no amor
Disto eu tenho certeza
Pois viveu perene dor
Na traição de Teresa

Amar, me deixa de molho
E isto muito inquieta
Por ela perdi meu olho,
Ganhei luz ao ser poeta

Ao mar lancei-me, amigo,
Fuga das intemperanças
A saudade veio comigo
Hoje vivo das lembranças.

Vivi em terras estranhas,
Passei por mil dissabores
A dor feriu-me as entranhas
Amores, muitos amores

Para um soldado do rei
Que vive aqui exilado
Se vivo, digo, não sei
Não tenho você ao meu lado

Que preces devem fazer
Os que sofrem do coração?
Vendo não vendo o viver
Quando perdeu a visão

Mudo vem ao pensamento
A fala daquela mulher
Se povoa o meu momento
Afinal, o que ela quer?

Quer Matar-me de amor?
Aqui estou morto em vida
Quer abrir mais a ferida
Fazer da vida um horror?

Não chores, poeta amigo
A dor é bem, não é mal
Sepulte o amor antigo
Com várias pás de boa cal

Eis a moral da história
Quando chega seu momento
Ele, na busca de gloria
Morreu por isolamento

A vida nos dá exemplos
Para aprendermos lições
Dores e deslumbramentos
Viveu nosso poeta Camões

Ele não fala em si mesmo
Virtudes nunca ele arrota
Mais saiba que foi herói
Na Batalha de Aljubarrota

Morreu Camões, o poeta
Deixando aqui seu legado
Nos versos do vate distante
Versos dum peito magoado


“Transforma-se o amador na coisa amada
Por virtude do muito imaginar
Não tenho logo mais a desejar
Pois em minha tenho a parte desejada”

(Poema escrito em 1980, quando se comemorou o IV Centenário da morte do maior poeta da Língua Portuguesa, Luís Vaz de Camões)

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Jorge Lemos