sábado, 3 de julho de 2010

As Cruezas Expostas

©2007 Jorge Lemos



Comentários

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Jorge

Sabes, assim como ainda não li Saramago, também nunca li Graciliano. Quando eu teria lido na escola, minha escola era outra e minhas leituras também. As vezes acho que deveria lê-lo, mas a crueza de vida que ele apresenta em seus escritos já experienciei na vida. Das cruezas da vida, talvez a pior seja a que estás passando agora - esta me foi poupada até aqui.

A tua força é um exemplo para mim. A tua sensibilidade um abraço.

Beijos grandes
Anne

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Comentário de Blogger Anne M. Moor, em 4 de julho de 2010 às 12:55  

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A bagagem emocional transforma a leitura ... Lembro-me de que nos primeiros meses após minha separação eu chorava em comercial de sabão em pó, quando mostravam a familia feliz ...

JOrge: fiquei sabendo da tragédia de seu filho através do Ernesto e lamentei muito. Passado esse mês de julho, quando esterei viajando e o frio desanima, vamos visitar-lo, de nos dá esse prazer.

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Comentário de Blogger Flavio Ferrari, em 4 de julho de 2010 às 13:15  

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Querido Jorge,

Como você, sou grande fã de Graciliano Ramos, que li bastante ao longo de minha juventude.

Você citou "Chico Brabo" e, aí vejo e estabeleço um belo paralelo entre os personagens de Graciliano e os teus ricos personagens, como o "Tonhão" e o "Bocó Ferradura", além do contexto que os envolve a todos, como irmãos sertanejos, brasileiros autênticos.

Não quero aqui fazer nenhum tipo de análise Arendtiana, e nem seria capaz, mas, ao falar dos seus personagens, por oportuno, não poderia deixar de citar Arendt quando diz:

“O indivíduo moderno e seus intermináveis conflitos, sua incapacidade de sentir-se à vontade na sociedade ou de viver completamente fora dela, seus estados de espírito em constante mutação e o radical subjetivismo de sua vida emocional nasceram dessa rebelião do coração”

A tua obra e a de Graciliano Ramos, ambas em sua busca constante de enredos na experiência individual, marcam, decisivamente, o estreito vínculo do romance com a concepção de mundo da era moderna e propõem uma radical volta para o interior do sujeito, nos levando a tais questões.

A permanente situação crítica em que seus personagens são lançados quase sempre diz algo sobre o conflito homem/mundo no qual a tentativa de superação se faz a partir de uma interiorização, a partir de uma volta da consciência para dentro de si mesma.

O sentimento de estranhamento do mundo, do seu não-reconhecimento como lugar seguro de existência, leva a uma interrogação sobre essa relação e a sua singular problemática das conseqüências.

A expropriação da propriedade, que significa perda de lugar no mundo e a crescente complexificação da sociedade, com suas novas concepções, põem o homem diante de uma nova situação, tornando a sua relação com o mundo permanentemente desconfortável.

A presença dessa tensão na obra de Graciliano - essencialmente em "São Bernardo" e "Angústia" - abre a possibilidade de uma análise crítica que busque compreender o sentimento de estranhamento do mundo, o subjetivismo e a sua relação com a esfera da política nas narrativas desses romances.
Diferentemente de "Angústia", onde o personagem "Luiz da Silva" se apresenta como sujeito que traz o sentimento de estranhamento do mundo estreitamente relacionado com a erosão de seu vínculo anterior a um lugar privado perdido, em "São Bernardo" tal desabrigo se faz presente pelo processo de constante apropriação e desumanização das relações dos indivíduos-personagens com o mundo.

Em ambos a relação com a esfera da política é reduzida e recoberta pela esfera da necessidade e pela esfera do social como organização dessa necessidade. Aí, Tonhão e Bocó são agentes-executores dessa reorganização por vias do expurgo, muitas vezes, e curiosamente, a mando da própria política.

Finalmente, tal generalização da relação entre propriedade e apropriação não pode deixar de ser pensada na sua apresentação mais específica que é a da relação entre a propriedade agrária e expropriação camponesa vista em Graciliano Ramos em mais de uma ocasião (Vidas Secas, São Bernardo, Angústia).

Por suas características deliberadamente não comprometidas com a realidade, a tua obra e a de Graciliano não deixarão de representar uma “fatia da vida” pensada nos limites de qualquer fonte histórica.

Mesmo partindo de personagens e situações fictícias, seus romances não deixam, igualmente, de colocar situações humanas reais e que, portanto, envolvem valores e sentimentos mundanos.

Não queria me alongar muito, mas achei uma boa oportunidade para te demonstrar que o que tenho dito a respeito de te considerar um autor literário, um patrimônio nacional ainda não devidamente reconhecido, no nível dos mais famosos e prestigiados nomes da literatura brasileira, não é meramente decorrente da nossa profunda amizade.

Um forte abraço, cheio de admiração,

Walmir

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Comentário de Blogger Walmir Lima, em 4 de julho de 2010 às 22:00  

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Anne

É realmente necessário buscar Saramago: desde o "Evangelho" ao "Caim" venho acompanhando este
sagrado monstro universal. Já Graciliano é o que escrevi. Penitenciei-me! Walmir, abaixo, discorre sobre ele com propriedade impar.
Estou saudoso
Beijão
Lemos

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Comentário de Anonymous Jorge Lemos, em 5 de julho de 2010 às 10:36  

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Ferrari amigo

Agradeço sensibilizado o carinho de suas palavras de conforto. Aguardo-os de peito aberto e coração quente.
Abraço do
Lemos

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Comentário de Anonymous Jorge Lemos, em 5 de julho de 2010 às 10:40  

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Walmir Amigo

Suas refleções sobre Graciliano estão absolutamente corretas. Quanto ao Jorge Lemos, mais agradecido que nunca, ele pretende galgar caminhos mais lerdos para chegar lá em cima, como escritor, e poder não se deixar seduzir pela vaidade. Nosso convivio tem sido de real oportunidade para o meu aprimoramento profissional e razão direta da sua visão critica, trazendo sempre para a minha concepção criativa as virgulas e correções que me proporcionam segurança.
Curioso como Tonhão, Salustiano, Tinhuma, Jamiro, Bananeira e tantos outros receberam a sua presença neste Blog: De peito mais que repleto de satisfação, em Salustiano Bocó Ferradura, curvo-me a sua sensibilidade e, para tanto, coloco uma de minhas oito filhas, a que mais lhe agradar, como padrinho.
Ernesto vai ficar com muito ciume!
Grato amigo

Jorge Lemos

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Comentário de Anonymous Jorge Lemoz, em 5 de julho de 2010 às 10:49  

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Jorge, meu amigo,

Para não perder a oportunidade, queria dizer ainda, como já comentei aqui ou em várias de nossas conversas, como tenho dito a pessoas que conheço e falei, tempos atrás, para o Ernesto, seus personagens, Jorge, são de uma riqueza sem medida - nos divertem, nos encantam, nos informam e educam sobre a nossa cultura de raiz, mas, acima de tudo, nos fazem refletir profundamente em seu cunho sociológico, psicológico e filosófico.

Vou tomar como exemplo o "Tonhão da Fonseca".

Ele, como "Hanna Schmitz", personagem de Kate Winslet em "O Leitor" - com quem estabeleço uma analogia, uma direta comparação - pela minha visão é um simplório. Ambos agem agredindo, inocentemente, os conceitos e os pudores dos padrões da sociedade, mas não se dão conta, pensam que estão fazendo a coisa certa, que estão apenas cumprindo o seu dever.

Ele tem por profissão a de Matador, que o rotula como um ser vil e sem excrúpulos segundo os conceitos gerais da sociedade, mas o vejo como um ser bom e, até certo modo, puro em seus princípios, seus conceitos.

Tonhão tem caráter. Treinado e orientado por seu Meste Jamiro, a quem venera e respeita, acredita piamente que age segundo sua incumbência, sua missão, regida por um ser superior que o designou para expurgar os "coisa ruim" do convívio dos homens de bem. Por isso não sente remorso - não faria sentido.

Tonhão tem sua ética. Não executa sua tarefa com fins de roubar ou de prevalecer financeiramente de suas vítimas. Age segundo seus desígnios superiores mandando os "coisa ruim" para outra dimensão. Não tortura, não tem por objetivo causar dor, e, eficaz, apenas pulveriza, sem discutir, a existência daqueles que não merecem viver.

Paradoxalmente, vejo em Tonhão uma pessoa boa em sua essência, sensível às manifestações do Divino, da natureza, com quem convive em perfeita harmonia - Ele é, antes de mais nada, um sonhador.

Dito assim, de forma bem simplista, resumida e nada técnica, parece pouco, mas a leitura destes teus livros e seus maravilhosos personagens (e eu, como revisor, tenho o privilégio de ser o primeiro), para mim, é mandatória e não deixa a dever a nenhum dos 'best selers' que andam por aí. Divulgá-los, uma obrigação.

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Comentário de Blogger Walmir Lima, em 5 de julho de 2010 às 21:30  

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Quando, quase sempre pelos piores motivos, sou motivado a ver ou a comentar figuras das artes e letras do Brasil, chego à triste conclusão que eu (bem acompanhado por parte da população portuguesa), sei muito pouco das Artes e Letras do Brasil.

Graciliano Ramos não fez parte das minhas leituras... Ainda estarei a tempo de corrigir este defeito, instigado pelos meus amigos Jorge Lemos e Walmir Lima!

A minha (nossa) pátria é a língua portuguesa...

Abraço,
António

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Comentário de Blogger A.Tapadinhas, em 7 de julho de 2010 às 13:32  

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Caro amigo e mestre, é triste constatar que mesmo com o passar do tempo ainda estamos a presenciar as mazelas que se cometem em nosso país.
A dor e o sofrimento descritos em tantas obras, refletem a alma política de nosso povo, cada um por sí, e, Deus para todos, afinal sempre nos disseram que Deus é brasileiro.
Creio que a continuidade das capitanias hereditárias, hoje revestidas de legendas, não irá terminar enquanto formos individulistas, e cartoriais.

A ti meu mais profundo respeito, e o meu obrigado, pelas coisas que nos ensina a ver e a rever.

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Comentário de Blogger vittorio, em 8 de julho de 2010 às 21:48