Momento Constrangedor

Benevides Garcia repassa-me um desagravo do Professor Igor Wildmann que, revoltado, se manifesta, profundamente consternado, com o trágico acontecimento provocado pelo universitário que desfechou facada mortal no peito do seu professor Kássio Vinicius Castro Gomes, dentro de uma cantina, em horário escolar.

Aqui, em minha coluna, transfiro parcialmente aquele desagravo e me somo a todos aqueles que receberam, com indignação, a medida extrema tomada por um desprezível indivíduo totalmente despreparado para a vida estudantil (como milhares, neste país do “faz de conta”), tanto pela família quanto pelas escolas que acabam sempre contribuindo para o avanço da extrema violência física, moral e ética, como a que hoje vivemos.

Reforço (na minha condição de livre articulista em jornais interioranos), o tributo ao professor assassinado, que deixa mulher e filha, agredido pela irresponsabilidade que campeia em todos os pontos deste Brasil agonizante pela perda dos elementos fundamentais ao processo evolutivo e civilizatório.

Obrigado Benevides. Que minha coluna seja também uma âncora neste vazio porto de atitudes dignas por parte da mídia vendida, em todos os níveis e escalões da República.

Como diz o manifesto do colega, Prof. Igor, eu também acuso (“meu dever é falar, não quero ser cúmplice...” - Emile Zola) esta porcariada que envolve a sociedade e a política brasileira.

Reproduzo, então, parte do documento:

“a)- EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que romantiza a “revolta dos oprimidos” e justifica a violência, equiparando certo ao errado e vice-versa;

b)- EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfletos que romantizam a “revolta dos oprimidos” e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vitimas (Agressão ao senso, à razão e à dignidade);

c)- EU ACUSO o burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto que impedem a escola de fazer constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes (infrações gravíssimas) em outras escolas;

d)- EU ACUSO a hipocrisia de se exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia-a-dia, serão pressionados a dar provas tranquilas, provas de mentirinha, “para adequar a avaliação ao perfil dos alunos” (fato hoje extremamente comum em todos os níveis do ensino);

e)- EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que (atendendo a pressão política), em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, frequentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

f)- EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo interesse de responsabilidade com conteúdo e formação de alunos, bem como suas futuras missões na sociedade;

g)-EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual finge que não sabe que, para a escola que o paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

h)-EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”..."

Eu, Jorge Lemos, defendo, em nome da honestidade e da responsabilidade para com meu País, que se deva promover e incentivar a VELHA CULTURA do ensinamento moral e cívico, do profundo respeito às normas, do respeito que infundia o austero e consciente professor do passado a nos mostrar as diferenças entre o aprendizado com respeito e o sentido amplo do: “seu direito termina quando começa o do próximo”.

Falo, como experiente homem que também já navegou no campo do ensino preparando jovens para vida profissional, pelo amor à profissão e à causa da decência e da moralidade.

Grito, como filho de professores e educadores (meu pai e minha mãe) que buscaram, na sua profissão, formar gerações contínuas de verdadeiros seres.

Falo como pai de professores (dois), um deles morto, levado a séria e profunda depressão por ser agredido por um aluno que teve suas notas baixas por não possuir nenhuma base para o curso a que se propunha. Agredido em sala de aula, e, ainda foi “chamado à atenção” pela direção da escola, entrou em profundo estado que o levou à morte, deixando, também, esposa e filho. O desgosto mata!

Como afirma o professor Igor sobre o trágico acontecimento com o Professor Kássio Vinícius Castro Gomes: “qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas”.

Lamento começar o ano desta forma. Espero que cada um dos meus leitores se sinta também ofendido e esfaqueado pela irresponsabilidade de tantos e tantos deformados que criam Leis que nada oferecem à consistência moral e à responsabilidade das futuras gerações.

Com muita indignação, tenho dito!



(Imagem: "O Profeta Jeremias - Lamentações", afresco de Michelangelo Buonarroti)

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Jorge Lemos