sábado, 30 de junho de 2007
Exorciza-me
©2007 Jorge Lemos

Exorciza-me
Ode ao Poetinha Vinicius de Morais
Mestre Carlos Drummond de Andrade, purista em seu texto, precisamente claro, certa feita confessou-me, quando o entrevistei, (sei lá quando, talvez por volta do ano 50), que “a poesia é totalmente unida à estrutura semântica da linguagem musical”.
A frase me ficou martelando por dias a fio. Passei a buscar a correlação e o valor das palavras e toda a sua ordenação, observando a principalidade da língua no conjunto dos sistemas semiológicos; ou seja, comecei a procurar “pelo em ovo”. Para aliviar minhas dúvidas desenterrei os eruditos senhores defensores da construção verbal, todos os mestres da linguagem fática na oração principal. Nadei na estruturação semênica do idioleto e da pancronia, na análise da estruturação silábica. Confesso: comi amargo na busca do “sexo em anjos”.
Dias depois de queimar inteiramente a cuca, me encontro com o adorado amigo e Professor Antônio de Abreu Sodré, meu significativo mestre filólogo consagrado, homem sabedor das diferenças entre tropos e macrotropos e de todos dos elementos suprassegmentais, que sentiu pelo seu largo poder de alcance das vernáculas formas, que minha prolixidade fazia parte de certo desarranjo mental provocado pela semia, sim pela metade do entendimento que a mim foi proposto pelo mestre poeta Carlos.
Apertando meu ombro esquerdo com seus tenazes da mão direita, segreda-me: -“Mande tudo a merda! O poeta quis dizer: Se um poema não tiver ritmo e sonoridade, cadência e concordância não contem poesia”.
Passei a entender mais a poesia como a manifestação da beleza; um quadro que fale a sua alma é poesia. Foi assim que me despertei para um outro sonho:
EXORCIZA-ME
O caminhar da garota
que vai para a praia
pisando macio
na larga calçada
é pura poesia.
O gingar dos quadris
Que inspira desejos
É letra de versos!
E o brilho do óleo,
Do sol refletido,
Na pele morena?
É pura poesia
Que invade minh´alma,
Que tudo me acalma
e me consome em desejos.
E o riso sonoro
Que sai de sua boca?
- Menina, tu é louca!
Tu corres perigo!
Não provoques tanto
Libere o encanto
De forma maneira.
Passeia... passeia ...
Deixe eu sentir o perfume
Desta carne cruel
Que revolve minha vida.
Exorciza-me querida...
pois vivo no inferno
Dos muitos desejos,
Eu quero seus beijos,
e morrer em você!
(imagem: gusleig)
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terça-feira, 19 de junho de 2007
Coivara
©2007 Jorge Lemos
...nas noites claras
Trecho do poema “Coivara”,
dedicado ao amigo Sergio Porto
... Sei quando o vento revela
As coisas que quer dizer...!
Cada vento tem seu jeito de falar,
Como cada mulher
Tem sua forma de amar!
Na noite quente
O clarão da lua cheia
Se aloja no fundo da rede larga.
A brisa mansa, vez por outra,
Anima as folhas das palmeiras
Despertando desejos no ar!
A mulher, como a própria lua,
Na rede também se enrosca;
Ambas despidas das poucas vestes que têm.
O clarão prateado põe a descoberto
O corpo tisnado, delicado e brejeiro da fêmea,
Que se mostra por inteiro nu
Assim como um tronco
Que restou na queimada;
Coivara!
Naquele campo, corpo sem cipós,
Ou espinhos,
O vaqueiro passeia
Suas mãos firmes.
Tangendo amor
Embrenha-se nas entranhas
E curvas da mulher amada,
Como o fogo que lambeu
O verde viço das folhagens
Lá do roçado.
Cheiro de amor, eu sei,
Tem propriedade de vida!
Um cheiro de alecrim e manjerona,
Doce de cravo enfumaçado da panela,
Grudado no corpo dela!
Só quem ama sabe e conhece
O sabor e os cheiros
Das coisas da carne forte
Lá do agreste.
Coisas que ficam eternamente
Na lembrança...
De vergonha ou de ciúme,
A lua se escorregou lá no céu.
Um bacurau, olho bem aberto,
Espreita o corpo da mulher na rede.
Bichinho ardiloso, danado!
Gargalhando,
Vem contar pra noite
o que a lua fez.
E o ladino, fica repetindo:
- A luz se foi!... A luz se foi!...
Um velho Caburé, muito experiente
Com as coisas das noites claras,
Responde profetizando:
- Num foi não!... Num foi não!...
O domador das vaquejadas,
Sem ligar para aqueles
Comentários e olhares curiosos,
Prossegue seu movimento ritmado:
Acompanhando o suave embalo da rede,
Pra lá e pra cá...
Agora se põe ele num vai-e-vem
Mais rápido; quase num galope.
O tangedor e domador de corpos,
Segredando, geme baixinho:
- Como é bom... Ai, como é bom!
E o mundo ali se encerra.
O curiango, ao fim do ato,
Aplaude com um bater firme
Das suas asas,
E, gargalhando, promete:
- Amanhã tem mais... Amanhã tem mais!
Um silêncio, pleno e satisfeito,
Enfeixa a noite...
(ilustração: sir.k.tibete)
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quarta-feira, 13 de junho de 2007
O Tribuno II - Irracionalidades
©2007 Jorge Lemos
Tribuno Horacio - 65 A.C. - 8 A.C.
Irracionalidades
Os civilizados que me perdoem, mas educação é fundamental.
Berço é algo muito sério; é o foco onde a vida se fixa e se planta a semente das futuras gerações.
Cada dia mais algo me surpreende nessa humanidade falida, ou parcialmente falida. Não consegui ainda, com sinceridade, avaliar quando e onde perdemos o caminho justo do respeito objetivo ao ceder lugar para o mal que predomina. Será que foi pela nossa omissão ou fragilidade cultural, provocada pelo excesso de miscigenação de raças? Ou foi, ainda, pelas pressões dos meios de comunicação que fizeram um mundo plano e tudo muito próximo? Francamente, ainda me perco pela constância das dúvidas. Como defesa, cada vez mais me distancio deste aglomerado humano que permite todo tipo de licenciosidade e permanece inerte, imóvel, anestesiado e compulsivamente ausente.
Notaram como tudo de mal acontece corriqueiramente e poucos se apresentam com atos e palavras para defender o bem? A corrupção corre solta. A moral inflexível e a ética são apenas referências de poucos indivíduos, quando, aqueles que as praticam são todos chamados de chatos! As licenciosidades discrepantes são praticadas e aplicadas como novas referências. Cidades inteiras são dominadas por traficantes, contrabandistas, corruptos, sonegadores, falsários, proxenetas, etc. O sexo livre, animalesco e fácil, come solto em todos os níveis dos agrupamentos humanos. O respeito é praticamente uma palavra que vai se tornando apenas uma palavra, sem nenhum sentido objetivo. Reina no ar um sentimento de falência das virtudes.
Movidos pela insensatez das vaidades plurais e pelos ganhos fáceis, tripudiam-se vidas com naturalidade. Acham que a prática do mal é um bem. E aos poucos tudo se emporcalha a nossa volta, chafurda no mal e os respingos das fezes nos atingem a todos, tudo porque vamos todos cedendo a cada instante o nosso sagrado direito de ocupar espaço limpo, saudável e livre de todo o mal.
Meu leitor deve estar preocupado com o que acima escrevo. São verdades, infelizmente incontestáveis. Ouça emissoras de rádio. Elas desceram a um nível de comunicação onde o humor é dizer palavras de baixo calão e a cultura é a fofocagem sobre as trocas de maridos e mulheres das atrizes ou personalidades públicas. Nas ante-salas de médicos, o que se vê são aquelas revistas ditas “avançadas” com textos que emporcalham e embotam mentes. São “ilhas fantásticas” dos encontros fáceis que levam as pessoas comuns e sem estrutura moral familiar, aos “paraísos” dos vícios e prostituição. Esta é a pressão maléfica do maio. E a televisão? Os programas cafajestes que pululam dão nojo. Tudo elevado ao quadrado. Os “Big Brother” ensinando a trair, destruir, mentir, sob os aplausos da ignorância do povo. Quanta perda de preciosos tempos que poderiam estar a serviço do crescimento humano, da edificação de vidas, da moral, do procedimento ético, das virtudes.
Cada dia mais me convence de que cada vez mais retroagimos em nossa conduta humana e não estamos sabendo aproveitar o grande salto que nos oferecem todas as ciências. Avançamos em tecnologias e retrocedemos em valores morais. Deu para entender?
ASTERISCOS-
Não agüento mais os descalabros: Toda semana um escândalo envolvendo personagens ligados ao Lula. Basta! Esta semana: Dario, compadre do homem e Genivaldo, seu irmão mais velho. Quem será a bola da vez da semana entrante? Que mar de......
(artigo de Jorge Lemos, na sua coluna 'Linhas Cruzadas' - Jornal Folha de Vinhedo, em 09.06.2007)
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sexta-feira, 8 de junho de 2007
Meu Corpo e Minha Vida
©2007 Jorge Lemos

Meu Corpo e Minha Vida
Estephania, querida esposa.
Para revelar você
Bastou olhar o dia,
Todos os dias,
Quando o milagre da luz
Se faz num todo.
Canta a cascata,
Murmura o vento,
Sussurra a chuva;
A linguagem mais bela do amor
é muda!
Quem colocou este
Raio de sol
Nos meus olhos?
Deve ter sido aquele
Peralta menino
Que nasceu orvalho,
Cresceu regato,
Envelheceu caudal,
Para morrer no mar
De sonho
De poeta!
(Imagem: Tucoo Art Museum)
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domingo, 3 de junho de 2007
Verdade Plena
©2007 Jorge Lemos

Verdade Plena
para minha filha Aline
Não apague nunca
A chama da esperança
Que existe dentro de você.
Não afogue a certeza,
Que é a vida,
No mar das vacilações.
Não enterre a revelação do amor
No caustico ácido da dúvida
A felicidade,
Para sobreviver,
Exige espaço
Em cada coração.
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